Quando uma mulher fica grávida, todos ficam cheios de expectativas. Tudo o que se diz é a respeito do bebê que está para chegar, imagina-se como será a carinha, compram-se roupinhas, móveis, brinquedos... Os que já têm filhos contam o quanto é gratificante ter um bebê em casa, comenta-se apenas a respeito da plenitude desta nova fase da vida. O que ninguém conta para a futura mamãe é o quanto são difíceis os primeiros dias com o bebê, especialmente para as mães de primeira viagem. Talvez porque as pessoas se esqueçam deste curto (mas sofrido) período, talvez porque não queiram assustar a gestante. O fato é que se tais dificuldades fossem compartilhadas, provavelmente as mães de primeira viagem pudessem encarar o sofrimento dos primeiros dias com mais naturalidade.
Tudo começa na maternidade. De repente, você não está mais grávida. Deixou de ser o centro das atenções, deixou de ser motivo de preocupação e cuidados (tudo bem, isto ainda dura um tempo durante a recuperação do parto, mas é só!). Ao invés disso, ao seu lado está uma criaturinha indefesa, extremamente frágil e totalmente dependente. E acredite, neste primeiro momento não é amor o que você sente por ele... é uma mistura de sentimentos: vontade de proteger, orgulho por ter “feito” essa pessoinha linda, medo de machucá-lo, mas amor, amor mesmo, você só sentirá por ele depois alguns dias. É a cada troca de fraldas, a cada mamada, a cada banho, a cada vez que o embala para dormir que seu sentimento por ele vai sendo construído. E aí começa a primeira dificuldade; todos disseram que você o amaria instantaneamente, assim que olhasse para ele, assim que o pegasse no colo, mas não é bem isso que você sente! Com certeza sente muitas coisas boas por ele, mas não sabe se é exatamente o que denominamos “amor”. Você olha para ele e não sabe direito o que sentir. Então começam os questionamentos: “Será que eu sou normal? Será que conseguirei amá-lo? Será que meu instinto materno está com defeito?”. Acredite, vínculo é algo que precisa ser construído, inclusive com seu filho. Você amou seu marido assim que o viu, do mesmo jeito que ama hoje? Você amou seus amigos no momento em que os conheceu? Certamente a resposta é não. Com os filhos é a mesma coisa; o vínculo se fortalecerá e ficará mais intenso a cada dia, ele não surge magicamente no momento do nascimento.
Depois vem a alta do hospital, o momento de ir para casa com o bebê. Receber alta parece ser um momento apenas de alegria e até de alívio, certo? Errado. Não nesta situação, muito menos para as mães de primeira viagem. Você ficará aflita ao pensar em levar o bebê para casa, em saber que agora é só você e ele (ou no máximo seu marido ou alguém que lhe ajudará com os cuidados do bebê). A vontade é de levar as enfermeiras para casa... será que posso? Só uma delas então? Não, agora você está por sua conta e risco. Sentir medo ao invés de alegria neste momento é absolutamente normal; estranho seria não temer uma situação tão nova e desconhecida.
Finalmente, os primeiros dias em casa... ah, os primeiros dias. O momento tão sonhado chegou. Você está com seu bebê, e depois de tantos meses de espera finalmente irá inaugurar o bercinho, as roupinhas, o carrinho, os perfumes, creminhos e aquela infinidade de mimos que foi juntando ao longo da gestação. Uma delícia não é? Nem tanto. Os primeiros dias servem única e exclusivamente para que você se adapte ao bebê e ele se adapte a este novo mundo aqui fora. Não sobra tempo e nem disposição para curtir todas as coisas que você comprou ou ganhou de presente para ele. Uma infinidade de novas situações terá que ser enfrentada: noites mal dormidas (o que é extremamente difícil para quem costumava dormir pelo menos oito horas seguidas), crises de choro intermináveis (e em alguns momentos absolutamente nada do que você faz é capaz de cessá-las), dificuldade para amamentar (alguns bebês não têm força para mamar nos primeiros dias, algumas mães não têm leite o suficiente, e às vezes as duas coisas acontecem juntas), visitas intermináveis (as visitas até são rápidas, o que é grande é o número de pessoas que aparecem para conhecer o bebê), e outras situações que podem aparecer variando de caso para caso. Além de tudo isso, você vai estar se recuperando de um parto (seja ele normal ou cesáreo), estará sentindo dor e sua mobilidade estará extremamente diminuída.
Pode ser também que você tenha crises de tristeza e de choro. Não se preocupe, a não ser que isto dure mais do que quinze a trinta dias, este sentimento é absolutamente normal. Existem inclusive pesquisas que dizem que assim que o bebê nasce o funcionamento cerebral da mãe passa por modificações, tornando-a mais sensível e insegura. É como se a mãe sofresse uma espécie de “regressão” para que consiga identificar-se com as necessidades do bebê.
Este cenário dura alguns dias. Sua vida estará de pernas para o ar durante este período; a casa fica bagunçada, você fica extremamente tensa e a sensação é de que nada nunca mais voltará ao normal. Você pensa que nunca mais conseguirá trabalhar, ter vida social, ou simplesmente sentar em frente à televisão para assistir a novela ou aquele programa de auditório que é exibido durante a tarde.
Entretanto, aos poucos tudo volta aos eixos. É claro que sua vida mudou totalmente, mas você adapta-se a esta nova condição, aprende a lidar com as novas exigências que ela lhe impõe. Você aprende que não é preciso sentir-se tensa e preocupada o tempo todo, as coisas acontecerão a seu tempo e quando acontecerem você achará uma forma de lidar com elas. Você até encontra tempo para ligar para aquela amiga com quem não conversa desde que seu bebê nasceu, ou pintar as unhas do pé que estão em frangalhos. Mas tenha a clareza de que é necessário passar por este primeiro período de desorganização e insegurança, e que é normal, mais do que normal, é comum sentir-se ansiosa e até infeliz nos primeiros dias de maternidade. Recorrendo a uma metáfora bem grotesca, é como fazer depilação com cera quente: você precisa suportar aquela meia hora de dor para poder desfrutar de um mês de pernas bonitas! O importante é saber que assim como a dor da depilação, o sofrimento inicial da maternidade é inevitável. Mas ele vai passar, a seu próprio tempo mas vai passar, e a partir daí cada dia tenderá a ser mais fácil e mais feliz ao lado de seu bebê.
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