terça-feira, 22 de março de 2011

Conselho de mãe

              A coisa mais difícil para uma mãe, especialmente de primeira viagem, é aprender a cuidar do bebê, segurá-lo, alimentá-lo, trocar as fraldas, dar banho, etc., certo? Errado. O mais difícil é ter que lidar com uma infinidade de pessoas que querem ensiná-la a cuidar do bebê. Os conselhos são intermináveis:
- “Não segure ele assim”;
- “Você não dá chá para ele? Mas é importante para hidratá-lo!”; ou
- “Você dá chá para ele? (em tom de indignação) Mas ele é muito novinho. O correto é dar só leite”;
- “Este menino está com muita roupa”; ou “Este menino está com pouca roupa” (às vezes referindo ao MESMO traje no MESMO dia!)
-“Para que penteá-lo? Para que passar creme nele?”
- “Você demora muito para trocá-lo. Ele está com frio!”...
Enfim, se todos os conselhos ouvidos por uma mãe de primeira viagem fossem listados aqui, este post seria grande demais para a capacidade do blog. O fato é que tais conselhos, quando não requisitados, exercem os mais diversos efeitos sobre a mãe, e pode ter certeza, nenhum deles agradável. Um dos principais é o sentimento de incapacidade; ouvir tantos conselhos faz com que a mãe questione-se se está cuidando do bebê de maneira adequada, pois se estivesse as pessoas não interfeririam desta forma. Às vezes a mãezinha deixa de sentir-se mãe de verdade, sente-se como uma menina brincando de boneca. Outro sentimento, obviamente, é a insegurança: se alguns dizem que o bebê está com excesso de roupas e outros não, se alguns dizem para dar determinado alimento e outros não, QUAL ORIENTAÇÃO A MÃE DEVE SEGUIR? Além disso, a mãe passa a sentir-se constantemente avaliada, o que faz com que perca totalmente a espontaneidade ao cuidar do bebê, e procure fazer o que os outros esperam que façam e não o que deseja realmente.
A verdade é que não existe apenas uma forma de ser mãe. A relação de cada mãe com cada bebê será construída de maneira única, a passos lentos, e por meio da experimentação. Está comprovado que uma das maneiras mais eficazes de aprendizagem é o “ensaio e erro”, e isto também vale para a maternidade. É errando que a mãe de primeira viagem aprenderá a ser mãe. Não existe outra forma, e os conselhos não evitarão que tais erros aconteçam.
Mais curioso ainda é ver tais conselhos partindo de mulheres que ainda não são mães...
“Se conselho fosse bom, a gente não dava, vendia”. Acho que esta é a mensagem deste texto. Mesmo assim, não resisto, vou ter que dar alguns conselhos mesmo apresentando uma posição contrária aos mesmos. Na verdade são mais pedidos (ou seriam súplicas?) do que conselhos.
a)Conselho de uma mãe de primeira viagem para mães experientes: deixem que a nova mãe experimente, tente, crie sua própria maneira de ser mãe. E não se preocupem, se ela precisar de ajuda nesta nova condição certamente a requisitará!
b)Conselho de uma mãe de primeira viagem para as não-mamães: guardem sua forma de ser mãe para os bebês que um dia virão. Eles irão precisar!
c)Conselho de uma mãe de primeira viagem para as outras mães de primeira viagem: sua forma de ser mãe é única. Ninguém tem o direito de lhe privar desta aprendizagem, que apesar de difícil é uma das mais prazerosas do mundo. Lute por ela!

sexta-feira, 11 de março de 2011

O pequeno vilão

Era uma vez um pequeno vilão (na verdade esta pequena história vai ser narrada no tempo presente, apenas achei que “era uma vez” foi o jeito mais atrativo de iniciá-la. Clichê, mas atrativo). Quando eu digo pequeno, é pequeno mesmo, literalmente pequeno. Acreditem, ele tem mais ou menos 50 cm de altura (ou deveria dizer comprimento?). O vilão é realmente malvado. Seu passatempo preferido é torturar todos à sua volta, tanto física quanto psicologicamente. Quase um sociopata, esse vilãozinho. Formas de tortura? As mais variadas. Uma delas foi usada inclusive como tortura de guerra: privação de sono. Isso mesmo, o pequeno vilão não deixa que suas vítimas durmam, e quando deixa, faz com que elas despertem poucas horas ou até minutos depois. Outra forma de tortura adotada pelo vilãozinho é a privação de higiene e alimentação. Assim que as vítimas resolvem alimentar-se, tomar banho, ou ir ao banheiro, o pequeno vilão as impede emitindo um som contínuo, irritante, e que não pode ficar sem pronto atendimento. O vilão também adora fazer com que as pessoas à sua volta sintam-se constantemente inseguras e em dúvida. Como ele faz isso? Simples, ele insiste em utilizar um idioma que ninguém, mas ninguém mesmo no mundo compreende. Assim, as vítimas do pequeno vilão nunca sabem com certeza o que ele quer, precisam ir oferecendo-lhe várias coisas até descobrir sua necessidade. E saibam que isto pode levar horas...
Por que o pequeno vilão faz isso? Aparentemente sem motivo. A verdade é que o vilãozinho quer que todos os seus desejos sejam prontamente atendidos, sem preocupar-se se os demais também possuem necessidades a serem satisfeitas. Aliás, ele nem sabe que os outros também possuem necessidades. E o mais curioso é que as maiores vítimas do pequeno vilão são justamente as pessoas que mais o atendem e o amam.
Já descobriu quem ele é? Não? Então lá vai mais uma pista. Além de ser um profissional na arte da tortura, o pequeno vilão possui outro poder. Ele consegue ser imediatamente perdoado por suas maldades. Não há raiva, não há rancor, não há desejo de vingança contra o vilãozinho. Por pior que tenha sido a tortura, por mais horas que as vítimas tenham passado acordadas, por mais fome que estejam sentindo, por mais inseguras que estejam, elas sempre perdoam o pequeno vilão de forma instantânea. Como? Ele possui várias armas para tal finalidade, e estas armas são mais simples do que você imagina. Basta um olhar do vilão, bem dentro dos olhos de suas vítimas, e tudo está resolvido. Um simples balbucio sem sentido também faz com que o torturado esqueça todas as maldades que sofreu. Mas a arma mais poderosa e de efeito mais rápido é o sorriso do pequeno vilão; seja ele genuíno ou causado por um movimento involuntário dos músculos do rosto do vilãozinho, um sorriso apaga da memória das vítimas todo e qualquer resquício de sentimento ruim por esta pequena criaturinha.
Na verdade, há vários pequenos vilões espalhados pelo mundo todo, e a cada dia mais pessoas tornam-se vítimas deles. O mais curioso é que muitas pessoas escolhem ser vítimas de um pequeno vilão, às vezes mais de uma vez. E por que fazem tal escolha? Entre outras coisas, para ter contato com as armas do vilãozinho, as mesmas armas descritas ali em cima. E não há nada mais prazeroso do que ser vítima de tais armas várias vezes por dia, durante vários dias, semanas e anos.
A identidade do pequeno vilão? É variável. Para descobri-la, olhe para o serzinho que neste momento dorme no bercinho ao lado da sua cama, no carrinho no canto da sala de estar, ou brinca com objetos coloridos dentro do chiqueirinho. É isto mesmo, é ele. O pequeno vilão estava dentro de sua casa o tempo todo. Saber disto vai fazer com que você o ame menos, ou queira livrar-se dele? Certamente não. Apenas o fará compreender que tem o privilégio de ser mais uma vítima de um pequeno vilão, com todas as angústias e prazeres que tal condição carrega.