domingo, 27 de fevereiro de 2011

Os primeiros dias de uma mãe de primeira viagem

Quando uma mulher fica grávida, todos ficam cheios de expectativas. Tudo o que se diz é a respeito do bebê que está para chegar, imagina-se como será a carinha, compram-se roupinhas, móveis, brinquedos... Os que já têm filhos contam o quanto é gratificante ter um bebê em casa, comenta-se apenas a respeito da plenitude desta nova fase da vida. O que ninguém conta para a futura mamãe é o quanto são difíceis os primeiros dias com o bebê, especialmente para as mães de primeira viagem. Talvez porque as pessoas se esqueçam deste curto (mas sofrido) período, talvez porque não queiram assustar a gestante. O fato é que se tais dificuldades fossem compartilhadas, provavelmente as mães de primeira viagem pudessem encarar o sofrimento dos primeiros dias com mais naturalidade.
Tudo começa na maternidade. De repente, você não está mais grávida. Deixou de ser o centro das atenções, deixou de ser motivo de preocupação e cuidados (tudo bem, isto ainda dura um tempo durante a recuperação do parto, mas é só!). Ao invés disso, ao seu lado está uma criaturinha indefesa, extremamente frágil e totalmente dependente. E acredite, neste primeiro momento não é amor o que você sente por ele... é uma mistura de sentimentos: vontade de proteger, orgulho por ter “feito” essa pessoinha linda, medo de machucá-lo, mas amor, amor mesmo, você só sentirá por ele depois alguns dias. É a cada troca de fraldas, a cada mamada, a cada banho, a cada vez que o embala para dormir que seu sentimento por ele vai sendo construído. E aí começa a primeira dificuldade; todos disseram que você o amaria instantaneamente, assim que olhasse para ele, assim que o pegasse no colo, mas não é bem isso que você sente! Com certeza sente muitas coisas boas por ele, mas não sabe se é exatamente o que denominamos “amor”. Você olha para ele e não sabe direito o que sentir. Então começam os questionamentos: “Será que eu sou normal? Será que conseguirei amá-lo? Será que meu instinto materno está com defeito?”. Acredite, vínculo é algo que precisa ser construído, inclusive com seu filho. Você amou seu marido assim que o viu, do mesmo jeito que ama hoje? Você amou seus amigos no momento em que os conheceu? Certamente a resposta é não. Com os filhos é a mesma coisa; o vínculo se fortalecerá e ficará mais intenso a cada dia, ele não surge magicamente no momento do nascimento.
Depois vem a alta do hospital, o momento de ir para casa com o bebê. Receber alta parece ser um momento apenas de alegria e até de alívio, certo? Errado. Não nesta situação, muito menos para as mães de primeira viagem. Você ficará aflita ao pensar em levar o bebê para casa, em saber que agora é só você e ele (ou no máximo seu marido ou alguém que lhe ajudará com os cuidados do bebê). A vontade é de levar as enfermeiras para casa... será que posso? Só uma delas então? Não, agora você está por sua conta e risco. Sentir medo ao invés de alegria neste momento é absolutamente normal; estranho seria não temer uma situação tão nova e desconhecida.
Finalmente, os primeiros dias em casa... ah, os primeiros dias. O momento tão sonhado chegou. Você está com seu bebê, e depois de tantos meses de espera finalmente irá inaugurar o bercinho, as roupinhas, o carrinho, os perfumes, creminhos e aquela infinidade de mimos que foi juntando ao longo da gestação. Uma delícia não é? Nem tanto. Os primeiros dias servem única e exclusivamente para que você se adapte ao bebê e ele se adapte a este novo mundo aqui fora. Não sobra tempo e nem disposição para curtir todas as coisas que você comprou ou ganhou de presente para ele. Uma infinidade de novas situações terá que ser enfrentada: noites mal dormidas (o que é extremamente difícil para quem costumava dormir pelo menos oito horas seguidas), crises de choro intermináveis (e em alguns momentos absolutamente nada do que você faz é capaz de cessá-las), dificuldade para amamentar (alguns bebês não têm força para mamar nos primeiros dias, algumas mães não têm leite o suficiente, e às vezes as duas coisas acontecem juntas), visitas intermináveis (as visitas até são rápidas, o que é grande é o número de pessoas que aparecem para conhecer o bebê), e outras situações que podem aparecer variando de caso para caso. Além de tudo isso, você vai estar se recuperando de um parto (seja ele normal ou cesáreo), estará sentindo dor e sua mobilidade estará extremamente diminuída.
Pode ser também que você tenha crises de tristeza e de choro. Não se preocupe, a não ser que isto dure mais do que quinze a trinta dias, este sentimento é absolutamente normal. Existem inclusive pesquisas que dizem que assim que o bebê nasce o funcionamento cerebral da mãe passa por modificações, tornando-a mais sensível e insegura. É como se a mãe sofresse uma espécie de “regressão” para que consiga identificar-se com as necessidades do bebê.
Este cenário dura alguns dias. Sua vida estará de pernas para o ar durante este período; a casa fica bagunçada, você fica extremamente tensa e a sensação é de que nada nunca mais voltará ao normal. Você pensa que nunca mais conseguirá trabalhar, ter vida social, ou simplesmente sentar em frente à televisão para assistir a novela ou aquele programa de auditório que é exibido durante a tarde.
Entretanto, aos poucos tudo volta aos eixos. É claro que sua vida mudou totalmente, mas você adapta-se a esta nova condição, aprende a lidar com as novas exigências que ela lhe impõe. Você aprende que não é preciso sentir-se tensa e preocupada o tempo todo, as coisas acontecerão a seu tempo e quando acontecerem você achará uma forma de lidar com elas. Você até encontra tempo para ligar para aquela amiga com quem não conversa desde que seu bebê nasceu, ou pintar as unhas do pé que estão em frangalhos. Mas tenha a clareza de que é necessário passar por este primeiro período de desorganização e insegurança, e que é normal, mais do que normal, é comum sentir-se ansiosa e até infeliz nos primeiros dias de maternidade. Recorrendo a uma metáfora bem grotesca, é como fazer depilação com cera quente: você precisa suportar aquela meia hora de dor para poder desfrutar de um mês de pernas bonitas! O importante é saber que assim como a dor da depilação, o sofrimento inicial da maternidade é inevitável. Mas ele vai passar, a seu próprio tempo mas vai passar, e a partir daí cada dia tenderá a ser mais fácil e mais feliz ao lado de seu bebê.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Maternidade: o maior paradoxo que existe

Pense na cena: são 2 da madrugada. Você foi dormir depois da meia-noite, já que seu bebê recém nascido não parava de chorar, mesmo estando de barriga cheia, fralda limpa e medicado para cólicas. De repente... adivinha? Ele começa a chorar novamente! E você começa tudo de novo: troca a fralda, alimenta, faz massagem e compressas quentes na barriguinha (você bem que queria medicá-lo novamente, mas o fez há poucas horas e teme uma super dosagem) , passeia pela casa, canta, e tudo isso enquanto suas pálpebras parecem pesar cinco quilos cada uma.
Várias coisas passam pela cabeça de uma mãe em um momento como este, e certamente uma delas é: “Por que eu fui engravidar? Devia ter continuado com minha vidinha de antes, quando dormia, comia e saía quando bem entendia, e não quando ele deixava.” Você já pensou assim enquanto cuidava do seu bebê? Admita apenas para si mesma, ninguém vai saber... Se a resposta for sim, não se preocupe, você é ABSOLUTAMENTE NORMAL. Se a resposta for não, isto também não é motivo de preocupação, porque UM DIA VOCÊ VAI PENSAR! Pode ser na próxima noite em que seu bebê não a deixe dormir ou daqui a quinze anos, quando você não conseguirá dormir porque novamente são 2 da madrugada e ele ainda não chegou em casa daquela saída com os amigos. É certo, é mais do que certo, que este tipo de pensamento passa pela cabeça de TODAS as mães em algum momento. E é mais certo ainda que quase nenhuma tem coragem de admitir, já que chocaria muitos e daria a impressão de que você não é uma mãe boa o suficiente, ou que não ama seu filho como deveria. Mas a verdade é que, mesmo pensando assim, você ama seu filho mais do que tudo no mundo. Mesmo questionando se ser mãe foi sua decisão mais acertada, isso não a torna menos mãe ou uma mãe ruim.
Volte à cena do início. Aquela, às 2 da madrugada, lembrou? Mesmo com suas pálpebras pesando cinco quilos cada uma, você ainda consegue olhar para baixo, para aquele serzinho nos seus braços. E é aí que todas as suas perguntas são respondidas... “Por que eu fui engravidar?”.  Para ter esses olhinhos, indefesos e totalmente dependentes, olhando para você com total confiança e esperando que você lhe dê o conforto de que precisa. “Por que eu não continuei com aquela vidinha de antes?”.  Simplesmente porque ela não lhe completava; ela já havia virado uma rotina sem sentido e este bebê preencheu um vazio que você nem sabia que existia.
E isto é ser mãe. Como diz o título, o maior paradoxo que existe. Você irá do inferno ao paraíso em alguns segundos, e para isto basta uma crise de choro interminável do seu bebê (inferno) ou um olhar dele mostrando que reconhece você, que sabe que esteve dentro de você por nove meses, e por isso sente-se seguro com você (paraíso). Mas pense bem, tudo nesta vida é paradoxal: o trabalho proporciona prazer e sofrimento, às vezes os dois ao mesmo tempo. O casamento traz alegrias e tristezas, tanto que elas fazem parte do texto proclamado pelos noivos em qualquer cerimônia. As demais relações de nossas vidas também são exemplos disso, sejam elas de amizade ou com a família. Até a relação com seu próprio corpo é assim, em alguns dias você se olhará no espelho e ficará satisfeita, e em outros irá sentir-se a criatura mais horrenda do universo. Por que com a maternidade seria diferente?
Sendo assim, seria muito mais fácil se todas as mães conseguissem conscientizar-se de que nem sempre se sentirão felizes com a maternidade, assim como nem sempre estão felizes com seu trabalho, seu casamento, seu corpo. Sentir isto significa que ser mãe foi uma decisão equivocada? NÃOOOO, um não bem grande e decidido. Apenas significa que você assumiu mais um dos vários paradoxos existentes na vida, com a diferença de que este é o maior e mais intenso deles. E além de tudo, é eterno.

Apresentando o blog

Decidi fazer este blog assim que me deparei com a mais nova experiência de minha vida: ser mãe. Diante dela, percebi que há muitas coisas maravilhosas ditas a respeito da maternidade, mas há muitas, muuuuuitas outras coisas não ditas, e que se fossem ajudariam muitas mães e se sentirem mais "normais" e menos culpadas por alguns pensamentos e sentimentos que vivenciam.

Sendo assim, o objetivo aqui é publicar alguns textos (com periodicidade indefinida, já que meu tempo e minha disponibilidade já não estão condicionados apenas à minha própria vontade) com pensamentos e sentimentos que vão emergindo desta minha nova vivência.

IDEIA DE MÃE - um blog escrito entre uma troca de fraldas e outra, entre uma mamadeira e outra e às vezes com apenas uma mão, pois há momentos em que o bebê manhoso fica com soluço ou simplesmente insiste em ficar no colo!