Assim que uma pessoa tem filhos, é imediatamente apresentada a um novo sentimento: a culpa. Tudo bem, não é exatamente novo, provavelmente já o sentimos em vários outros momentos de nossas vidas. Mas certamente a culpa nunca apareceu com tanta intensidade, frequência, ou por razões aparentemente tão pequenas e inexplicáveis.
Culpa porque seu bebê fez cocô e você percebeu apenas depois de algum tempo. Culpa porque acidentalmente arranhou seu bebê enquanto o trocava. Culpa porque precisa deixar seu bebê chorando enquanto toma banho, faz almoço, ou qualquer outra coisa que não possa fazer com ele no colo. Culpa porque não conseguiu amamentá-lo com leite materno. Culpa por ter que levá-lo para tomar as vacinas, mesmo sabendo que a longo prazo trará apenas benefícios ao bebê. Culpa porque não passa tanto tempo por dia brincando com o bebê como acha que deveria. Culpa porque a fralda vazou durante a noite e ele passou algumas horas com a roupa molhada. Culpa porque você colocou roupas demais (ou de menos) no bebê e agora ele está passando calor (ou frio). Culpa por amaldiçoar o dia em que decidiu engravidar, o que costuma acontecer naquelas noites em que seu bebê decide acordar às 3 da madrugada e não dormir mais. Culpa porque se irritou com o bebê durante aquela crise interminável de choro. Culpa porque ele está com dor de ouvido (já que o deixou no vento durante dois segundos enquanto tentava abrir a porta do carro e segurar a coberta ao mesmo tempo). Culpa porque ele está com prisão de ventre... (você pode aproveitar as reticências e completar o texto com culpas de sua própria experiência).
Além disso, não podemos deixar de mencionar outras culpas que não estão diretamente relacionadas ao bebê, mas que surgiram a partir do momento em que ele nasceu.
Culpa por estar descuidada de sua aparência, o que inclui unhas, depilação e cabelos sempre por fazer. Culpa por manter contato com seus amigos com menos freqüência. Culpa por quase nunca ter tempo e disposição para dar atenção ao marido. Culpa por sentir-se menos produtiva no trabalho. Culpa por não conseguir manter a casa tão organizada quanto costumava. Culpa por não poder dedicar-se tanto ao restante da família. Culpa por ainda não haver perdido o peso que ganhou durante a gravidez. Culpa. Culpa. Culpa.
Qual será o motivo que faz com que as mães vivenciem tal sentimento tão intensa e frequentemente? Tenho uma teoria: “A Síndrome da Mulher Maravilha”. Esta síndrome nos acomete ainda antes de sermos mães, mas certamente se intensifica muito com a maternidade. Ela consiste na obrigação permanente que sentimos de desempenhar todas as ações de nossas vidas com a máxima perfeição. Falei difícil? Traduzindo: QUEREMOS SER PERFEITAS EM TUDO O QUE FAZEMOS! E nem preciso dizer o quão impossível é isto.
A verdade é que precisamos desempenhar inúmeros papéis: mãe, esposa, amante, dona de casa, cozinheira, profissional, filha, irmã, amiga, mulher, entre muitos outros. A sociedade exige que desempenhemos todos eles com a máxima perfeição, com um sorriso no rosto e de preferência com unhas e maquiagem sempre feitas. E a pressão aumenta ainda mais quando aquela atriz famosa aparece na televisão três meses depois de ter um bebê e ela está radiante, com o corpo perfeito e faz questão de dizer o quanto sua vida sexual e amorosa está ainda melhor do que antes. Será verdade? Pode até ser em partes, mas não devemos esquecer da equipe de babás, domésticas, esteticistas e profissionais de saúde que assessoram esta mãe, além da pressão que ela sofre de mostrar ao público apenas o lado bom e as vantagens da maternidade. Ninguém quer ver aquela cantora famosa falando na televisão o quanto sua vida sexual piorou depois do nascimento do bebê.
A pergunta que toda mãe deve fazer a si mesma é: fiz o melhor que pude, considerando todas as circunstâncias? Dispensei os melhores cuidados que pude ao meu bebê, considerando que não tenho babá, empregada, e preciso trabalhar fora? Dediquei o máximo de atenção que pude ao meu marido, familiares e amigos, considerando o quanto meu tempo ficou reduzido após o nasicmento de meu filho? Estou cuidando de mim mesma o máximo que posso, considerando a atual redução de tempo e dinheiro disponíveis? Se a resposta a tais questões for não, analise (sem neuras) o que pode fazer para reverter o quadro (ATENÇÃO: eu disse o que PODE fazer, ou seja, o que está ao seu alcance e não o que é impossível). Se a resposta for sim, ótimo! Você está fazendo o melhor que pode e precisa mandar a culpa para bem longe, pela felicidade de sua família e por sua própria sanidade mental. Lembre-se que a primeira pessoa que deve se convencer de que não precisa fazer tudo com perfeição é você mesma; só assim as demais pessoas serão capazes de se conscientizar do mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário