domingo, 10 de abril de 2011

Carta de um bebê que não foi amamentado


Enfim eu nasci. Confesso que não foi uma experiência muito agradável, tive que sair do meu cantinho quente, escuro e confortável. Mas é inevitável, certo? Tenho que encarar o mundão aqui fora...
Os primeiros dias não foram fáceis! Eu achava tudo muito estranho: as luzes, as cores, os sons, o frio, tudo! Mas o mais difícil de aguentar era aquela dorzinha incessante que em sentia na minha barriguinha. Aos poucos fui entendendo que ela se chama fome.
A mamãe bem que tentou fazer a dorzinha passar, mas foi complicado. Primeiro eu é que não sabia mamar; ela colocava o porta-mamá dela na minha boquinha (acho que chamam aquilo de seio), mas eu não sabia direito o que fazer. Notei que a mamãe ficava muito nervosa com isso, mas eu realmente não sabia o que fazer! A dor na minha barriguinha ia aumentando, a mamãe chorava de um lado e eu chorava do outro.
Depois de uns dois dias eu pensei: “Já sei! Acho que se eu der umas sugadas neste porta-mamá essa dor vai passar. Deve ser por isso que a mamãe coloca ele na minha boca”.  E foi o que eu fiz. E não é que funcionou? Quanto mais eu sugava, mais saía de lá aquele líquido quentinho e docinho, e que aliviava bastante aquela dor. Mas tinha um problema: mesmo depois de sugar um tempão (ouvi a mamãe dizendo que eu ficava mamando 20, 30 minutos), a dor não ia totalmente embora. Ela aliviava, mas não passava, e o pior, voltava rapidinho com toda a força. Eu não tinha outra opção além de chorar, chorar e chorar. A mamãe e o papai já estavam cansados, pois eu não os deixava dormir direito. Mas a fome era muito grande!
Depois de alguns dias, fomos num tal de pediatra (depois fiquei sabendo que esse cara vai cuidar da minha saúde enquanto eu for criança), e a mamãe contou toda a situação para ele. Ele deu um remedinho para a mamãe tomar, para ela ter mais leite (que é o tal líquido quentinho e docinho que eu falei). A mamãe tomou o remedinho e fez várias outras coisas que ensinaram a ela; mas nada adiantou, minha barriguinha continuava doendo, doendo, e eu chorando, chorando. Quando pensei que as coisas não podiam ficar piores, o tal do leite que já era pouco começou a diminuir cada vez mais, acreditam? Eu sugava, sugava, e saía cada vez menos do porta-mamá. E o pior é que a mamãe demorou uns dias para perceber o que estava acontecendo, tive que chorar muito!Mas uma dia ela percebeu e ligou para o tal do pediatra para explicar a situação e perguntar o que fazer. Não ouvi o que ele disse, mas fiquei observando o que a mamãe fez: ela pegou uma garrafinha com uns desenhos legaizinhos, pegou uma coisa branca de dentro de uma lata, colocou na garrafinha, colocou água e chacoalhou. Depois colocou na garrafinha uma tampinha bem parecida com a do meu porta-mamá e a colocou na minha boca. De repente eu percebi: esse é outro porta-mamá! A diferença é que ele tem muuuuito mais do tal leite. A dorzinha na minha barriga sumiu! Às vezes ela volta, mas é só a mamãe me trazer esse porta-mamá novo (descobri que se chama mamadeira) que ela passa.
Só tem uma coisa que me deixa triste. Vejo muitas pessoas criticando minha mamãe porque ela me dá a tal da mamadeira e não o tal do seio. Esses dias ouvi falarem na televisão que amamentar no seio é um ato de amor. Pode até ser, mas preciso dizer algumas coisas para quem acha que amamentar na mamadeira não é amor...
Vejo o papai e a mamãe deixando de comprar várias coisas para eles para poderem comprar para mim um leite em pó (que é aquela coisa branca que vi a mamãe tirando da lata) de boa qualidade, além de mamadeiras bem bonitas com desenhos legais. Se isto não é amor, então não sei o que é!
O papai e a mamãe levantam de madrugada e vão até a cozinha fazer minha mamadeira toda vez que eu tenho fome, mesmo que eles estejam muito cansados ou que esteja muito frio. Se isto não é amor, então não sei o que é.
Quando o papai e a mamãe me dão mamá, eles sentam no sofá bem grudadinhos comigo e a gente fica se olhando nos olhos enquanto o tal do leite faz a dor na minha barriguinha passar. Se isto não é amor, então não sei o que é. Aliás, uma das coisas legais da mamadeira é essa; meu papaizão que eu adoro também pode me alimentar!
Além disso, percebi que tem várias outras formas de amar além da amamentação, e o papai e a mamãe fazem todas elas: eles me beijam e me abraçam toda hora (às vezes até me irrita um pouco, mas eu sei que a intenção é boa). Eles ficam empolgados com qualquer coisa que eu faço, até quando abro a boca para bocejar. Parecem uns bobos. Todo mês eles me levam no tal do pediatra e também para tomar as tais vacinas; tudo bem que eu não gosto muito dessa última parte, mas eu sei que é para o meu bem. Eles me dão banho gostoso todos os dias. Eles me pegam no colo e me consolam quando estou triste, bravo, ou qualquer coisa assim. Eles brincam comigo e me fazem morrer de rir. Eles me protegem com um cobertor quentinho quando está frio. Eles não me deixam perto de pessoas doentes. Eles só deixam pessoas conhecidas e de confiança cuidarem de mim. Nossa, se eu fosse falar todas as coisas que o papai e a mamãe fazem que mostram o quanto eles me amam, isso aqui nunca mais acabava.
Para terminar, o que eu quero dizer com tudo isto é: se eu que sou pequeninho percebi que não amamentar não diminui em nada o amor que a mamãe tem por mim, acho que quem é grande também pode perceber, não é? Só sei que sou um bebê muito feliz, mamando em qualquer porta-mamá!

2 comentários:

  1. Bebezinho,
    que você continue uma criança sempre muito feliz e muito amada!
    Um beijo da titia Marusia.
    http://maeperfeita.wordpress.com

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